quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Um Outro Eu

Num universo diferente daquele em que passo a maior parte do meu tempo, em vez de um simples adeus, até um dia que existirá se assim tiver que ser, ouvi… “nunca te esqueças, o que interessa não é o ambiente que te criam para viveres mas o ambiente que tu crias para viver” … como é verdade. Hoje voltei a ti e a esse momento e a tua frase voltou a ter muito sentido. Quem me disse esta frase conheceu um outro alguém que brotou de dentro de mim sem que para isso me tivesse que esforçar, e sim... faz sentido todo o contexto em que foi referida, e sim eu poderia criar esse universo a que ele se referia e sim também nele poderia ser feliz. Eu seria diferente daquela que conhecem … que algumas pessoas acreditam ser a única versão de mim. Alguns, muito poucos confesso, em momentos muito específicos conhecem esta pessoa. No fundo acredito que essa sou realmente eu, se efectivamente acreditasse que podia viver o que me disseste... Mas o medo…
Acredito que o nosso universo sentimental se resume a dois sentimentos muito simples – medo e amor – e sei que, se apenas em momentos muito específicos, sou esse meu outro eu é porque me deixo muitas vezes guiar por esse sentimento que me atropela chamado “medo”. Mas tens razão, eu posso criara o meu universo, esse mundo tão específico em que me sinto serena e em que parece que tudo flui sem esforço. Não preciso percorrer quilómetros de estrada para voltar a esse cantinho tão bonito deste nosso país, em que sempre fui feliz, em que a vida flui sem esforço, em que a comunicação é feita por tanto mais que palavras. Nesse universo as palavras existem num contexto tão completo, numa imensidão de verde, companhias agradáveis, conversas regadas e serenos momentos, em que a essência dos convivas flui por entre serenas risadas de boa disposição, em que a vida é simples. Como também tu me disseste, onde num universo do passado se vive um lado tão cosmopolita e actual, algo que dificilmente se encontra mesmo em supostas zonas cosmopolitas.
Fecho os olhos, e sinto-me a percorrer esse caminho de sebes, dentro de mim as nossas conversas, dentro de mim momentos simples … sim eu sei … esse eu posso criá-lo aqui, encontrá-lo aqui, sentir-me rodeada por ele aqui... basta saber encontrá-lo dentro de mim e sentir o grande prazer de me sentir rodeada por esse ambiente.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Fascínio

No silencio as tuas palavras vêm ter comigo mais uma vez… falas-me de fascínio como nunca antes ninguém falou, a simplicidade das palavras e o contexto em que as prenuncias-te fazem-me ficar presa a elas. Sei que ele existiu, sei que talvez tenhas razão e ele tenha surgido mais uma vez na minha vida, mais uma vez sem eu o procurar, mais uma vez sem eu o conseguir sequer controlar.
A vida é assim, por vezes sinto-me como se fosse tropeçando em coisas magníficas que me rodeiam sem antes ter dado por elas e sim … tens razão, fico fascinada pela beleza e pela simplicidade desses momentos, e a forma como esse fascínio me envolve faz com que outras pessoas sejam transportadas para dentro dele sem que esperem, sem que espere.
Sei que esses momentos em que me sinto evadida por beleza são isso mesmo, momentos que fazem sair de dentro de mim o que de melhor existe neste ser que é composto de tudo o que os outros são. Talvez seja um defeito esta capacidade que me é nata e que, confesso cultivo, de respirar esses momentos como se no momento seguinte o que vejo já tenha desaparecido. Dou por mim a perguntar-me o que é a vida se não um conjunto de momentos?
Então desejo que a minha vida seja repleta disso mesmo, um conjunto de momentos que gosto de absorver e viver, um conjunto de paisagens bonitas que me fazem sonhar, um conjunto de sons que me fazem sentir dançar por dentro, um conjunto de empatias que me fazem acreditar no ser humano, um conjunto de comunicações mudas que me fazem sentir em sintonia com tudo aquilo que gosto em mim, com tudo aquilo em que continuo a acreditar …com esse universo que apenas pode ser sentido e já mais contado, transmitido ou tocado.
Talvez … talvez me devesse assustar perante esse sentimento de vertigem que me cria o fascínio, mas não consigo porque ... é perante ele que eu me sinto, é nele que me encontro comigo mesma, é nesses momentos que pinto, é nesses momentos que a vida corre dentro de mim, é nesses momentos que me encontro, é nesses momentos que sou … é nesses momentos que eu sou eu.
Neste momento agradeço o facto de me teres devolvido ao meu fascínio pela vida e fico a desejar que a tua viagem seja de longa duração.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Fim

Dentro de mim cresce este sentimento ... conheço-o e no entanto cada dia ganha contornos diferentes.
Não o controlo mas observe-o como se não fizesse parte de mim, como se fosse uma mera espectadora ... hahaha mas não sou, sinto-o por dentro a desenvolver-se, sinto-o a crescer.
Sei que mais tarde ou mais cedo vou ter a certeza que não posso voltar a trás, sei que um dia destes não será apenas o tic tac, que neste momento me faz acreditar que vai criar uma explosão, um dia destes o tic tac transforma-se num simples clic e nada mais haverá para dizer, para contar ou para reviver ... ficará apenas um carinho por recordações e fotografias acumuladas ... o fim.
E assim será o fim, assim se vai escrever, sem culpas,magoas ou dores, apenas o vazio; sem perguntas,duvidas e indecisões, apenas acabou; sem ligar a quem fica, quem vai e para onde vamos, apenas fui; sem passado, sem presente ou futuro, apenas ...o fim.
Assim se termina uma historia que prometia continuar, assim se fecha o pano de uma peça muito apreciada, assim se fecha o livro de uma historia absorvente ... um fim não desejado como o fim de todas as historias que se gostaram de viver.
O fim escrito apenas a uma mão numa historia escrita a duas, um fim que ambas as maos espectavam mas nenhuma queria escrever ... Fim

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Um acordar

Hoje quando entrei no percurso rotineiro senti, o que por vezes me acontece, que me evadi. É um estado bonito porque me sinto a observar / absorver tudo o que me rodeia como se não existisse. Eu sem passado nem futuro apenas o momento presente. É lindo conseguir apreciar os pequenos nadas, o vento, os passos, os sons destintos do concerto "acordar de uma cidade", a cara sizuda, a cara serena, o sorriso de uma criança, o chão já gasto dos passos, o comboio que desliza, a buzina do condutor impaciente, uma folha que cai ... parece caótico e no entanto nesses momentos vividos, quase como que em câmara lenta, tudo parece fazer sentido na ordem do meu mundo, porque na realidade esses são os momentos em que entro no meu mundo sem as formatações da vida.
Quando acordei alguma coisa dentro de mim se desenhava ... sorri, inevitável não o fazer. Sim não sou apenas flor, tenho espinhos, não são poucos mas á pouco tempo os consigo olhar nos olhos, tenho pétalas macias e com um odor agaradável para contrabalançar o "picotado", tenho medos e em contrapartida sonhos e amor, tenho nós que desenho e nós que apago, sementes que deram frutos e outras que voaram com o vento...
Mas o sorriso com que acordei, não conhece esses picos e pétalas, não me pergunta por alegrias ou barreiras, não quer saber dos medos e do amor ... o sorriso com que acordei ficou a dançar dentro de mim e sei que no meio do "mundismo" que vai ser este meu dia ele está dentro de mim a dançar, como a chama no meio de um dia frio. Essa dança é fascinante, convida-me a entrar nesse lugar sem horizonte, a conhecer o brilho intenso do que se desenha, a entregar-me ao ritmo sem pensar ... esse sorriso é muito mais que um sorriso ... e eu sei.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Relacionamentos

Num sítio mágico para mim, num daqueles momentos que nos fazem sentir que só para os viver a vida já faz sentido, alguém me disse num momento de verdades “Cada vez tenho mais a certeza que a vida se resume a relacionamentos humanos”… prendo-me a esta frase e apercebo-me das inúmeras horas que já passei a vivê-la, as inúmeras palavras conversadas, a enorme diversidade de relacionamentos que já “colecionei” na minha existência… e quando em silêncio contemplo alguns desses momentos, não consigo deixar de sorrir, não consigo deixar de sentir que o meu universo é como uma enorme palete de cores … é bonita a forma como sorrisos, olhares e uma enorme diversidade de pequenos pormenores passam dentro de mim e me trazem aquela brisa amena que me faz sentir bem. O olhar, o toque, o sorriso, o aflorar da verdade que nos vai dentro … esse é o universo dos relacionamentos que mais me prende, a palavra que não é pronunciada…
Contemplar o olhar de alguém que se encontra à tua frente, é como ouvires mil palavras mudas de um mundo que apenas pode ser sentido. A variedade de sentimentos que já absorvi no olhar de quem gosto de ler, faz-me desejar viver na nudez desse mundo que, por vezes, a faculdade da comunicação verbal nos veta o acesso. É como estar perante um oceano de mil vagas… nesse oceano em que barreiras são demolidas porque não se consegue impedir que a alma seja lida, proporcionado a existência daqueles lapsos de tempo em que parece que o mundo parou de girar.
A verdadeira intensidade de alguns momentos apenas podem ser vividos no silêncio… a vida resumida ao universo dos relacionamentos das palavras mudas, é o que contemplo nesse olhar que me diz mais que mil palavras, porque as almas só se despem no silêncio dos momentos… a vida resume-se a isso mesmo, relacionamentos.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Música Na Nossa Esfera

"A minha primeira visão – um panorama do oceano num profundo azul brilhante, manchado com tons verdes, cinza e branco – era de atóis e nuvens. Perto da janela, eu pude ver que a vista do Pacífico em movimento era limitada pela grande borda curvada da Terra. Ela tinha um halo fino azul mantido próximo, e além, a escuridão do espaço. A visão tirou-me o fôlego, mas algo faltava – eu senti-me estranhamente vazio. Aqui estava um tremendo espectáculo visual, mas visto em silêncio. Não havia nenhum grande acompanhamento musical; nenhuma inspirada e triunfante sonata ou sinfonia. Cada um tem que escrever a música desta esfera por si mesmo."
Charles Walker, EUA, astronauta

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O Oceano Em Nós

"Não julgues. A vida é um mistério, cada um obedece a leis diferentes. Conheces porventura a força das coisas que os conduziram, os sofrimentos e os desejos que cavaram o seu caminho? Surpreendestes porventura a voz da sua consciência a revelar-lhes em voz baixa o segredo do seu destino?
Não julgues; olha o lago puro e a água tranquila onde vêm quebrar-se as mil vagas que varrem o universo... É preciso que aconteça tudo aquilo que vês.
Todas as ondas do oceano são precisas para levar ao porto o navio da verdade. Acredita na eficácia da morte do que queres para participares do triunfo do que deve ser. "

Jeanne Vietinghoff (citado em "In Memoriam", por Marguerite Yourcenar)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

6 de Outubro 2007

Marguerite Yourcenar escreveu um dia algo parecido com "Tu não serás para mais ninguém o que foste para mim" ... verdade, mas não consolador. Essa verdade não é nada perante a dor de ter que encarar que alguém deixou de existir nas nossas vidas, não porque quisemos, mas porque assim aconteceu ... doí, faz-nos sentir que a alma sangra, por dentro de nós algo é arrancado à força, um bocado de nós desaparece ... essa é a maior mentira, a verdade é que um bocado do nosso futuro é-nos arrancado, roubado, mas o passado com essa pessoa que amamos continua connosco.
É esse amar alguém que já não existe que nos faz sentir um pouco como morrer com essa pessoa. A morte faz doer pelo afastamento de alguém que amamos para uma realidade onde não podemos chegar, que não podemos compartilhar ... é o medo pelo outro ... é o medo de não conseguirmos desenhar a nossa vida futura sem o amor e a presença dessa pessoa como parte integrante dela. O medo que nos faz sentir as veias cheias de sangue frio e quente ao mesmo tempo, o medo como dor lacerante, o medo que nos congela a acção em relação ao futuro ... o medo e o amor a dançarem dentro de nós sem que os consigamos distinguir.
Depois vem a habituação, porque a vida não para, começamos a desenhar uma nova vida com a ausência desse amor partilhado, fica então a enorme saudade que permanece de mão dada com a recordação desse amor vivido, a saudade por essa pessoa que já não seremos porque também nós não seremos para mais ninguém o que éramos para ela ...

Neste dia 2 de um novo ano, este ano como em todos os anteriores anos da minha existência... Onde quer que estejas...um beijo enorme de parabéns para quem muito amo.