sábado, 31 de maio de 2008

Fio Condutor

Por vezes sinto que perco o meu fio condutor, nessas alturas chego mesmo a duvidar se ele existe na minha existência. São diversos, diferentes e quase sempre lindos os mundos onde vivo. São diversos, diferentes e quase sempre lindos os motivos que me fazem entrar nesses mundos.
Não escondo de ninguém que sempre me considerei uma pessoa de extremos e de limites, não escondo de mim que isso por vezes se torna perturbador para o meu mundo privado. Confesso que, por vezes, me questiono porque me mantenho em alguns deles. Confesso que, por vezes, me questiono se alguns deles ainda têm, ou alguma vez tiveram, motivo para existirem dentro de mim.
Sim, cada mundo novo em que entro me faz questionar os outros por onde andei ... eu permito e até agradeço que isso aconteça, mas as permanentes diferenças no meu mundo fazem-me duvidar, mais vezes do que o que gostaria, se me conheço, se existe algo que se mantém permanente no espaço vazio entre mundos.
Essas zonas de vácuo, deixam aquela sensação de vazio, de falta de consistência. Nessas zonas de vácuo, eu sou genuinamente eu. Nessas alturas, por vezes questiono-me por onde andei, nessas alturas questiono o que poderia ser diferente se não tivesse vivido em alguns mundos, nessas alturas questiono-me se me quero efectivamente conhecer, nessas alturas questiono as verdades que tenho dentro de mim, nessas alturas questiono o que sinto, nessas alturas ...nem sempre gosto do que descubro.
Por isso ... por vezes duvido se tenho fio condutor.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Com Vocês

Custa-me acreditar que naquela casa vou passar apenas a viver memórias, custa-me acreditar que uma casa onde vivi tantas alegrias agora vou viver da recordação delas. A realidade por vezes projecta-se em nós como se fosse uma bala. Dentro de mim nada morreu, mas instalou-se esse sentimento de saudade que as recordações não podem matar. Sinto saudades dos tempos em que viajávamos juntos, em que pacientemente me ensinas-te tantas coisas que recordo diariamente. Foste tu que me instalas-te o bichinho e sim ... fica descansado eu vou ter cuidado porque a saudade não consegue matar o amor que sinto por ti ... por vocês. É mais do que saudades de pessoas, é saudade de um tempo onde aprendi tantas coisas, é saudade da vossa atenção, do vosso riso com as minhas parvoíces, do vosso olhar quando me ouviam a falar.
Com vocês, e com a saudade que sinto desse mundo, a minha alma ficou cheia da verdade que poucas pessoas nos marcam, mas essas serão importantes para sempre. Vou ter saudades para sempre da pessoa que apenas vocês conheceram, porque quando se ama como vocês me amaram ... descobre-se que não existem palavras que expressem a saudade.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Fim e Inicio

Todos os anos por esta altura subo as muralhas e refugio-me dentro de mim. Este ano dentro da minha muralha encontrei o fim. Ao olhar para dentro de mim encontrei o adeus a pessoas que amei e o adeus a pessoas que ainda amo, encontrei o fim da caminhada de outras que amo, encontrei o fim de realidades da minha existência que nunca imaginei vir a perder.
"A partir de um certo ponto, não há retorno. Este é o ponto que é preciso alcançar." - Franz Kafka
O fim e o inicio misturam-se tantas vezes. Não desci o pano da minha peça, mas estou a viver uma nova peça. Levantem-se os actores de sempre, levantem-se as novas caras... pois... entre vocês existem novas caras, entre vocês existem caras que parecem de sempre, mas entre vocês... entre vocês faltam pessoas que amei e outras que amo, entre vocês falta algo que apenas alguns tinham capacidade de me oferecer ... neste cenário falta o cenário onde sempre me encontrei.
Após se conhecer a sensação do fim, não há retorno, e isso faz-nos regressar ao início. A essência do cenário que procuro neste palco está dentro de mim, a minha essência estava nesse cenário. Desta vez não me procurei, desta vez encontrei-me ... o que vocês me ofereceram já mais alguém me voltará a oferecer, o que fui para vocês já mais serei para outra pessoa.

sábado, 10 de maio de 2008

Regresso

Regresso ... estou de regresso a uma casa que conheço, a um ambiente que me é confortável ... a mim.
Perdi-me durante anos pelo mundo dos fascínios... perdi-me no mundo e descobri que o mundo é fascinante mas que tenho o meu próprio mundo.
É um regresso estranho, é como voltar de uma longa viagem, sabe sempre bem voltar a casa, mesmo que saibas que vais para sempre guardar recordações, mesmo que saibas que essa viagem te permitiu conhecer novos mundos, com realidades diferentes da tua ... mesmo sem saber se encontrei tudo o que procurava, quando iniciei esta viagem sem ideias pré-concebidas.
Quando regressas, o conforto que a tua casa te oferece é único, sentes uma paz a invadir-te, uma serenidade que apenas aqui encontras. No entanto a viagem permitiu-te descobrir que o mundo tem muitas realidades, que a tua verdade não é única, não é melhor, não é pior... é apenas a tua verdade. O regresso permite-me perceber que o meu mundo não está assim tão diferente, mas existe uma maior consciência relativamente à existência de um outro mundo.
As viagens criam um género de bichinho dentro de ti, uma vontade de descobrires sempre mais, de aprenderes sempre mais, de prolongares a tua descoberta mais um pouco, de te evadires, de seres outro eu que te é permitido ser nesse mundo, de te reinventares de ... regressei com a certeza que existe ainda um mundo enorme que não conheço, mas... esta foi uma longa viagem e o regresso está-me a saber ainda melhor.

sábado, 3 de maio de 2008

Misirlou

Dentro de mim a mistura de um passado regressado do pó da saudade inexistente ... dentro de mim as portas que se fecham e tornam a realidade presente no passado recente ... dentro de mim, quase como ritmo de batida de coração, a música incessante da banda sonora do "Pulp Fiction" - "Misirlou".
Sim ... quando do passado te chegam as respostas aos porquês que se mantiveram dentro de ti, já sem os dramatismos de quem está a viver o sentimento, mas com a simplicidade de quem já não se vai afectar com as respostas. Quando no presente sentes as portas do marasmo a fecharem-se e dentro de ti aquele ritmo incessante do Misirlou a encher-te da sensação que o tempo não para... essa sensação de movimento que não te permite prender aos pequenos nadas dos quais, recentemente, ganhas-te consciência que não te influenciaram ... é fascinante e assustador como sentes a vertigem de não parares muito tempo ... não interessa a fazer o quê mas o movimento não te permite pensar... foram anos de marasmo, foram anos de teias e pó e... corres com a frieza de quem quer vencer, de quem não se quer prender aos sentimentos que se formam, de quem sabe que se passar por estes resíduos da zona nublosa com a atenção fixa na raivinha que se está a formar no estômago, vais conseguir vencer o vício da cedência, da extenuante vontade de achar que a cedência te permite entender o inatendível ... neste vão entre portas, todos os dias a paisagem se transforma, neste vão entre portas a incessante batida do Misirlou a desprender-me das amarras do passado e a não deixar-me criar amarras por onde passo.